Quem foi o grande apóstolo dos gentios? Por que veio a Roma e quais são os locais que testemunham os últimos passos de São Paulo em Roma? Quais foram as razões de seu martírio? Onde estão os seus restos mortais, como foram conservados até hoje? Estas e outras tantas curiosidades e enigmas sobre uma das colunas da Igreja é o que queremos revelar nesta matéria.
Quem era São Paulo?
É difícil definir em poucas palavras quem foi o Apóstolo dos Gentios. Sem dúvida é uma das figuras mais fascinantes do Novo testamento e da Igreja primitiva. Nasceu na cidade de Tarso da Sicília (atual Turquia) entre os anos 5 e 10 d.C. Ele mesmo se apresenta como “membro da estirpe de Israel, da tribo de Benjamin, judeu filho de judeus e segundo a Lei, fariseu” (Fil 3,5). Homem de forte personalidade e coragem, ainda com o nome de Saulo, foi um dos mais temíveis perseguidores dos seguidores do Caminho (como eram chamados os primeiros discípulos de Jesus). Foi uma importante testemunha a favor do martírio de Santo Estevão.
Durante uma de suas investidas contra os cristãos a caminho de Damasco, teve uma experiência radical de encontro com Jesus Ressuscitado. Deste modo, a rota de Saulo muda completamente, adota o nome de Paulo e de perseguidor passa a ser um anunciador fervoroso da pessoa de Jesus e de seu Evangelho. Fundou várias comunidades cristãs e escreveu preciosas cartas com instruções, exortações e reflexões teológicas que desde o início da Igreja estiveram presentes no cânon das Sagradas Escrituras.
Por que São Paulo veio a Roma?
Sabemos, através do livro dos Atos dos Apóstolos, que o apóstolo dos gentios, a causa de sua pregação e de seu trabalho missionário, passou a ser perseguido. Temos como uma das primeiras descrições destes momentos difíceis, em Jerusalém, onde este a ponto de ser linxado pelo povo e somente graças a Claudio Lisa, comandante da Fortaleza Antonia, saiu com vida. Segundo os judeus Paulo profanava o Templo com sua pregação e estimulava o povo a desobedecer a Lei Mosaica (At 21, 28). Como cidadão romano que era, apelou às autoridades que não permitissem que o julgassem em tribunais judeus e sim na Orbe, sob a autoridade do Imperador romano (At 25,12). Seu pedido é aceito, e prisioneiro, é trazido a Roma. Mas, é interessante notar que Roma tinha um significado muito maior para Paulo. Sua viagem lhe seria providencial.
Com o forte anseio missionário, Paulo deseja vir à capital do poderoso Império para realizar uma obra que o Espírito lhe tinha inspirado (At 19,21), que depois foi confirmada através das palavras de um anjo (27, 23-24). A viagem, que a causa de uma grande tempestade quase custou a vida de todos os que estavam a bordo no navio, é descrita em detalhes por seu grande amigo, o evangelista Lucas no capítulo 27 e 28 dos Atos dos Apóstolos. Após estarem são e salvos em Malta, em um outro Navio, Paulo e outros prisioneiros embarcaram para Roma. Sobre a chegada de Paulo em Roma, sabemos que ele chegou a pé pela Via Appia (At 28,15) e ainda hoje podemos visitar a grande estrada da época do Império que dava acesso à Roma e ainda hoje é conservada, hoje chamada Via Ápia Antica, que conecta Roma ao sul da Itália.
Prisão domiciliar e martírio
Paulo residiu em Roma entre os anos 61 e 67. Nos primeiros anos vivia sob uma condição chamada “custodia militaris”, uma espécie vigilância da parte do Império. Podia pregar, receber amigos em casa. Tinha apenas algumas poucas restrições enquanto aguardava o seu julgamento definitivo (At 24,23). Um dos locais que, segundo a tradição, Paulo viveu parte de sua estadia e exerceu seu ministério em Roma é onde hoje se situa a Igreja San Paolo alla Regola.
Nos momentos de dificuldades, pôde contar com a amizade e companheirismo do evangelista Lucas: “só Lucas está comigo!”(2 Tm 4,11). Graças a esta proximidade temos acesso aos detalhes da vida do apóstolo dos gentios, através do livro dos Atos dos Apóstolos. Ainda que esteve a maior parte do seu tempo em Roma em uma espécie de prisão domiciliar. Posteriormente, com o incêndio de Roma, a culpa injusta lançada pelo imperador Nero aos cristãos, o Paulo foi condenado a uma prisão mais dura denominada “Custodia publica”, onde permaneceu junto aos prisioneiros comuns e em condições precárias. Pouco tempo depois foi condenado à morte.
Por que Paulo não foi crucificado?
Paulo era cidadão romano e, por esta razão, contava, de modo especial, com duas prerrogativas: a primeira era que não podia sofrer a pena de morte dentro dos muros da cidade de Roma, a segundo era que não podia ser crucificado. Por isso, de acordo com a antiquíssima tradição cristã, foi levado para uma região distante quase 5 quilômetros de Roma, em direção a Óstia e lá foi martirizado.
Hoje, o local é conhecido como “Tre fontane” (três fontes), e conta com três belíssimas igrejas que testemunham o local onde Paulo viveu seus últimos suspiros. É interessante notar que o nome “Ter Fontane” refere-se a um antigo relato que diz que ao ter sido decapitado, a cabeça de Paulo rolou pelo terreno dando três saltos e em cada um deles, nasceu uma fonte de água cristalina.
A Basílica e as relíquias
O corpo de Paulo foi sepultado num local que estava entre os muros de Roma e o lugar do martírio. Ali, o Papa Anacleto, segundo sucessor de São Pedro, construiu um túmulo memorial que desde então passou a ser local de peregrinação e veneração pelos cristãos. Mas, nos anos das terríveis perseguições aos cristãos, especialmente por volta de 258 d.C., durante o governo de Valeriano, os cristãos transferiram as relíquias de Paulo e as de Pedro para as catacumbas de São Sebastião.
Naquele local, estiveram protegidas até o governo de Constantino, que as conduziu aos túmulos de origem. As relíquias de Pedro ao local onde hoje está a Basílica de São Pedro e as de Paulo ao lugar onde hoje se encontra a Basílica de São Paulo Fora dos Muros. A Basílica de São Paulo foi construída a pedido do Imperador Constantino e consagrada em 324 d.C. pelo Papa Silvestre. Os Imperadores posteriores a ampliaram e com as modificações ao longo dos séculos é hoje um dos mais belos templos e locais privilegiados de peregrinação em Roma.
Bruno Franguelli S.J.